Qual é a imagem externa do Vasco: passado e presente?
ENTREVISTA COM O PROFESSOR JOSÉ FRANCISCO COSTA (*)
Agradecemos a disponibilidade, o importante e valioso contributo do Professor José Francisco Costa, para clarificar a imagem externa passada e presente do Vasco da Gama, através desta entrevista. O seu conteúdo faz um reconhecimento às gerações passadas, poderá ajudar a geração presente, mas também poderá orientar as gerações futuras, quanto ao que é a Cultura Vascaína, a forma de Jogar à Vasco e a experiência que as pessoas podem ter quando vêm o Vasco a Jogar.
Muito Obrigado Professor JOSÉ FRANCISCO COSTA.
SCVG – COMO TEVE CONHECIMENTO DA EXISTÊNCIA DO S.C. VASCO DA GAMA?
Ouvi referências ao Vasco da Gama, pela primeira vez, no início dos anos 50 do século passado. Não mais o esqueci pois soube então que o Vasco era uma Clube essencialmente de basquetebol, o que a mim, como grande apreciador de basquetebol que sempre fui, deixou-me encantado.
SCVG – QUANDO VIU O VASCO JOGAR PELA PRIMEIRA VEZ? COMO ERA O AMBIENTE, NOS JOGOS DO VASCO?
Foi só em meados dessa década, que vi pela 1ª vez o Vasco jogar, num jogo contra o Barreirense, no Barreiro. O campo era ao ar livre e de terra batida e recordo que o Barreirense, que se sagrou campeão nacional, teve enormes dificuldades em vencer o jogo, como alias sempre sucedeu nas várias vezes que vi o Vasco, tanto no Barreiro, como em Lisboa, ao longo da década, defrontando então, fora da sua casa, as melhores equipas portuguesas da época.
SCVG – COMO PODE CARATERIZAR A FORMA DE JOGAR DO VASCO? O QUE É QUE VIA DE ESPECIAL, DE DIFERENTE NO JOGO DO VASCO?
As dificuldades atrás referidas derivavam essencialmente do inconformismo da equipa, sobretudo quando o resultado não lhe era favorável, de um jogo colectivo sem vedetismos e muita entre ajuda, a procura do cesto ao mais pequeno erro do adversário e uma condição física que por vezes impressionava, mesmo não tendo jogadores tão altos como muitos dos seus adversários. O seu espirito de luta, desde o primeiro minuto de jogo, independentemente do resultado, mas que aumentava fortemente, quando o resultado lhe era desfavorável, sobretudo no plano defensivo, para uma recuperação rápida da bola, não era nada comum à generalidade das equipas naquele tempo.
SCVG – ENQUANTO ADVERSÁRIO, ERA FÁCIL DEFRONTAR O VASCO?
Nunca foi, mesmo quando o Vasco não se apresentava na sua melhor forma. Muitas vezes, os jogos foram decididos após prolongamento e mesmo quando treinava equipas com uma valia técnica bem superior, era necessário uma grande concentração e empenho, para obter o sucesso. O Vasco nunca se rendia, qualquer que fosse o adversário.
SCVG – HOJE EM DIA, ACOMPANHA O QUE SE PASSA COM O VASCO? SE SIM, QUAL É A FORMA PELA QUAL SEGUE O VASCO?
Actualmente, em virtude da pouca atenção que a comunicação social dá aquela que ainda é considerada a 2ª maior modalidade em Portugal, em função do número de praticantes e cobertura nacional, tenho muita pouca informação sobre o que se passa no nosso basquetebol. Acompanho a informação possível, via internet, assisto a um jogo de longe a longe e sou informado por alguns amigos ainda ligados à modalidade, como dirigentes ou técnicos e pouco mais. É lamentável, mas este é o País que somos e a “comunicação social” que temos.
SCVG – QUAL É A IMAGEM QUE TEM DO VASCO, NOS DIAS DE HOJE?
Sobre o Vasco de hoje, costumo dizer a amigos vascaínos que o Vasco renasceu. Depois de alguns anos a atravessar dificuldades de vária ordem, surpreendentemente surge-nos um Vasco a conquistar de novo títulos nacionais ou a discuti-los, em diferentes escalões e com todo um trabalho de formação notável, para alegria do seu muito vasto número de adeptos e que me recordam tempos antigos.
SCVG – HÁ ALGUMA HISTÓRIA, CURIOSIDADE OU MENSAGEM SOBRE O VASCO, QUE QUEIRA PARTILHAR COM OS NOSSOS JOGADORES, QUE OS POSSA AJUDAR A MELHORAR?
Ao longo da minha carreira como treinador, foram inúmeras as vezes que defrontei o Vasco, orientando diferentes Clubes. A emoção pela incerteza do resultado foi quase sempre uma constante. A primeira vez, treinava a CUF do Barreiro, disputamos um jogo para o Campeonato da 1ª Divisão, na época de 1968/69. O jogo decorreu desde o início sob o signo do equilíbrio pontual, sendo resolvido com prolongamento. A emoção era enorme, dentro e fora do recinto de jogo. Logo que este acabou, dirigiu-se para mim o treinador do Vasco, que eu não conhecia e deu-me um grande abraço, com palavras muito amistosas, revelando um desportivismo e um autocontrolo invulgares. Chamava-se Manuel Nunes. Ainda hoje o recordo com muita amizade, pelo grande exemplo de dignidade nos bons e nos maus momentos. Para mim, falar do Vasco da Gama é também falar no Manuel Nunes e no seu exemplo de Homem do desporto.
Notas:
(*) O Professor José Francisco Costa é sócio de mérito da ABP, dá nome do prémio de Treinador do Ano da ABP, foi recentemente homenageado pela FPB, pelo contributo emprestado ao Basquetebol Nacional, Jogou e Treinou o Luso do Barreiro, Treinou a CUF, o CDUP, o F. C. Porto e a Ovarense, e leccionou no ISEF e FCDEF (antigas Instituições de Formação de Profesores de Educação Física). O seu contributo na formação de jogadores, equipas, professores e treinadores, ao longo de mais de 60 anos, ligados ao basquetebol, tocou a vida de muitas pessoas.
– A foto foi recolhida de http://www.planetabasket.pt/
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